terça-feira, 1 de outubro de 2013

Teatro Onírico



Personagens-deuses, homens hipócritas! Criados na agonia para proteger o louco de seu delírio – e castigá-lo!
Seria inútil entregar-me, aqui, aos meus próprios questionamentos, fingir toda esta confusão; estou a iludir-me: quero mostrar – apenas para mim! – que estou ainda vivo. Sei que não estou mais aqui, sei que tu (sejas tu quem for) também não estás! espectro de mim, nossa falação é uma fraude (...)
Haverá em breve para todos nós um chamado. Eu criei isto tudo!
Mas é ainda em meu próprio devaneio que sofro essa desventura: eu, marionete de mim, puxado pelos mais horripilantes fios de minha consciência quebrada. Não sou mais capaz de ver fora do ‘eu’ – ou de habitar as delícias e a pequenez do dia, da vida exterior – condenei-me a perecer em mim, em sonho.
Minha falácia me comanda, sou mentiroso! – eu acredito em tudo que vejo (por que não o faria?), sei bem que sou capaz de triunfar sobre a loucura, de estar vazio e completamente são.
A sanidade há de acabar comigo; acabará com isto tudo!
As cortinas cairão, o espetáculo não pode continuar... é medonho... ainda é vida!
Não merecem nossos sujos cálices o népenthès. Pois que sirvamo-nos logo de veneno – o licor de chumbo e brasa que aplacará todas as visões.

(Thiago Nelsis)

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