Personagens-deuses, homens
hipócritas! Criados na agonia para proteger o louco de seu delírio – e
castigá-lo!
Seria inútil entregar-me, aqui, aos meus próprios
questionamentos, fingir toda esta confusão; estou a iludir-me: quero mostrar –
apenas para mim! – que estou ainda vivo. Sei que não estou mais aqui, sei que
tu (sejas tu quem for) também não estás! espectro de mim, nossa falação é uma
fraude (...)
Haverá em breve para todos
nós um chamado. Eu criei isto tudo!
Mas é ainda em meu próprio devaneio que sofro essa
desventura: eu, marionete de mim, puxado pelos mais horripilantes fios de minha
consciência quebrada. Não sou mais capaz de ver fora do ‘eu’ – ou de habitar as
delícias e a pequenez do dia, da vida exterior – condenei-me a perecer em mim,
em sonho.
Minha falácia me comanda, sou mentiroso! – eu acredito em
tudo que vejo (por que não o faria?), sei bem que sou capaz de triunfar sobre a
loucura, de estar vazio e completamente são.
A sanidade há de acabar comigo; acabará com isto tudo!
As cortinas cairão, o espetáculo não pode continuar... é
medonho... ainda é vida!
Não merecem nossos sujos cálices o
népenthès. Pois que sirvamo-nos logo de veneno – o licor de chumbo e brasa que
aplacará todas as visões.
(Thiago Nelsis)
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