segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Almirante de Olhos de Vidro



Foi este mundo que me fez tão triste,
Foi a gaiola que te pôs assim!”
- Augusto dos Anjos, Corrupião.

Desaparecem os momentos nas passagens:
arrastam-se os segundos à eternidade
(vislumbro isto detrás de meus olhos secos).

Lentes opacas que mostram-me a aflição
da continuidade,
do que há de artificial e supérfluo
numa vida de vidro.

Ares de pesadelo inflamam o quarto que é real,
que afunda no vazio da madrugada;
estou pregado a ele, a navegar o cosmos!

– nada aqui existe, senão a solidão desta noite vasta!
e no caos deste vácuo sou eu o Almirante Perdido...

(...)

Embora amedrontador
não é real ainda o meu desespero!
Há de ser substituído pelos instantes inertes
que ainda virão, implacáveis;
há de quedar e há de e partir-se por inteiro
este singelo vislumbre...

Tenho os olhos agora doentes...
E já não posso visualizar
todas estas passagens, são tantas
são sublimes;
e haverão de fulminar finalmente
tudo o que há neste parar.

(O universo parou...)  

(Thiago Nelsis)

Nenhum comentário:

Postar um comentário