quinta-feira, 21 de julho de 2016

Alumbramento

Perdi-me trôpego em teus olhos adentro.
Segui sedento a ilusão afora,
sob infindos astros de ardente deslumbramento.
Eu despertara, então, atônito,
agrilhoado aos Teus prazeres.

Quedei perante os séculos
que transitaram na inércia fluída ante o Porvir,
suspenso.

Sob a lua,
deleitei-me ao cantar canções já roucas
que buscara em existências passadas.
Neste vácuo turbilhão que fito, em desvario,
incursionei mais fundo em Teu delírio.

Ávido, busquei o sonho em que despertara a magia,
mirações raras entre paragens distantes
trouxeram-me o prazer.

O tempo desaparecera outras vezes,
e outras vezes mais seguimo-lo em sua hilariante linearidade.
Entrelaçamo-nos em desatino e, afoitos, combalimos enfim...
Jorrou o gozo e o sonho, jorrou o grito
e a garra firme fenece,
enlaça,
agarra novamente
e o Turbilhão retorna!

Avidez devassa que me consome e me consuma!
Restei quedado ao cosmos
E na distância do firmamento:

Dois olhos de esfíngico alumbre m’absorvem.

(Thiago Nelsis)

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Depois do Pesadelo



Perdido nos Desertos do espírito,
adentrei miragens profundas de minha mente sedenta.
Neste oásico deslumbre em que me fiz real,
consumi das areias o mais puro néctar...

“Contaminei-te, mundo, com meu delírio!
Fiz-me tempestade em tresloucadas visões.”

Estou cego, inerte,
eis que a mais estranha quimera era o mundo fora de mim.
Perdi-me entre trevas inventadas – que da luz, insuportável, as fizera...

Fiz savana das florestas onde ardera a Vida!
Desperdício; minha fúria, refúgio frívolo, feriu-me enfim.

Desperto, quero retornar ao Pesadelo!...
eis que materializaram-se os crimes que eu cometera em meu sono.
Estou em fuga! – caçam-me as sombras-homens,
gritam-me lamúrias que lhes cometi no refúgio sutil da Inocência.

Minha patifaria agora enerva-me!
Sou mil vezes as sombras de meu combate solitário,
em que assassinei almas enfermas
ao oferecer-lhes minha indiferente consolação.

O deserto está mudo.
Secaram as sombras,
endurecem-me os olhos que choram areias.

A terra árida e dura racha-me os pés que não mais sangram.
Minha Odisséia traz-me sereias pálidas, roucas e mudas,
que se ainda me pudessem encantar, recusar-me-iam.

Definha no céu opaco um brilho inerte da estrela Aldebarã,
em cujo chamado não me abraçará a insanidade.
O vácuo frio do cosmos gela-me, sem fúria.

Estou são com a compunção que a razão trouxera,
sem mais desfrutar dos perdões da loucura,
e as punições não me serão guardadas...

Eis que danação é fria!... a promessa do alento no ardor do Fogo Eterno,
em cujas chamas talvez a vitalidade aflorescesse
(permitindo-me talvez algum arrependimento)
– esperança final do Pecador! – fora-me retirada.

Em minhas mãos virara pó a última flor salva de meu oásis inventado...
Oh, despertar! Abandona-me!
leva contigo esta consciência inútil, e que esta terra morta se recusa a devorar!

(Thiago Nelsis)