Lá fora disto tudo
– onde não é sequer a vida –
foi que desmoronou finalmente minha
consciência:
já não posso mais transcrever
angústias,
sinto-as, somente, sem as
perceber.
Eu,
que vivi de narrar delírios,
estou inerte em relação a mim!
Estou perdido na realidade externa
que oprime a minha percepção...
Ah! sanidade e seus odiosos
deleites!
Maldição lúcida que enlouquece...
Eis-me fora de mim,
percebo agora a existência por
completo.
A matéria!
a sistemática
(a simetria!)
da vida que inflama
e apaga-se entre os despertares
recorrentes,
entre os sonos de infinito pesar...
Nada mais!
É a eternidade compreendida em mim mesmo,
e por isso mesmo não é nada...
(devaneio real)
Devaneio Real
O Nada!
Estou livre de minha própria
identidade
– lá fora, onde não é a vida!
–
Mas, embora fora de mim
é tudo ainda falso!
é tudo mentira.
Realidade externa de devaneio real,
lucidez eloquente manifesta
em devaneio...
percebo-me por fora, eis que já não
existo.
Apesar disso, reconheço ainda o
sofrimento;
e quando eu parar por completo:
quando eu estiver fora de mim
estarei ainda consciente
(estarei moralmente lúcido)!
Não poderei então pecar contra a vida
mesmo estando fora dela...
mesmo...
– lá fora, onde não é a vida!
–
Sou artifício de minha consciência
mecânica
– vitimado por ter sido feito
– vitimado por ter sido feito
para um mundo que não é este...
Devaneio lúcido, fora de mim.
(Thiago Nelsis)
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