terça-feira, 15 de outubro de 2013

Simetria


Lá fora disto tudo
– onde não é sequer a vida
foi que desmoronou finalmente minha consciência:
já não posso mais transcrever angústias,
sinto-as, somente, sem as perceber.

Eu,
que vivi de narrar delírios,
estou inerte em relação a mim!
Estou perdido na realidade externa
que oprime a minha percepção...
Ah! sanidade e seus odiosos deleites!
Maldição lúcida que enlouquece...

Eis-me fora de mim,
percebo agora a existência por completo.
A matéria!
a sistemática
(a simetria!)
da vida que inflama
e apaga-se entre os despertares recorrentes,
entre os sonos de infinito pesar... Nada mais!

É a eternidade compreendida em mim mesmo,
e por isso mesmo não é nada...
(devaneio real)
Devaneio Real
O Nada!

Estou livre de minha própria identidade
– lá fora, onde não é a vida!

Mas, embora fora de mim
é tudo ainda falso!
é tudo mentira.

Realidade externa de devaneio real,
lucidez eloquente manifesta em devaneio...
percebo-me por fora, eis que já não existo.

Apesar disso, reconheço ainda o sofrimento;
e quando eu parar por completo:
quando eu estiver fora de mim
estarei ainda consciente
(estarei moralmente lúcido)!

Não poderei então pecar contra a vida
mesmo estando fora dela...
mesmo...
– lá fora, onde não é a vida!

Sou artifício de minha consciência mecânica
– vitimado por ter sido feito
para um mundo que não é este...

Devaneio lúcido, fora de mim.

(Thiago Nelsis)

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