I
A ilusão
desapareceu!
– da névoa
de sonho perdido,
vagando sem
saber por onde andava,
vejo-me
envolto no meu velho inferno:
o inferno é sempre
o tempo presente.
O sentar-se
olhando para o nada,
sem desse
nada captar sensação ou pensamento...
há o vazio
fugidio de tudo que corre
(corre mais
o tempo quando se o tenta parar).
Captar os
mesmos devaneios que,
quando
vividos, não são nada vívidos
– tudo é um
pálido cinza do infinito agora,
um agora
passageiro que foge sem me abandonar.
Refugio-me
entre paredes e não faço Nada,
tento adiar
a continuidade inevitável,
planejando o
movimento que não é ação.
Engano-me!
Tento buscar
mais da ilusão que foi-se embora,
incapaz de
deter o presente,
segurando
essa paz que é tormento!
(o tormento
passa a guiar o devaneio,
e este
torna-se absoluto nada)
Não há no
presente embriaguez ou sobriedade,
sofrimento
ou deleite...
Foi-se tudo
com a névoa do sonho
que não
consigo lembrar,
desperto
aterrorizado e estrangeiro de mim
– pois todo
despertar é violência.
Sou despejado
em mim
para encarar
novamente isto,
que é nada.
II
Vou recriar
em breve o mundo:
a nova
História da Humanidade
repousa em
minhas memórias mais distantes;
posso
lembrar de tudo o que já destruí
(posso
reconhecer a Criação).
As pálpebras
pesadas destes meus olhos insones
– que tentam
fitar o desconhecido...
eu me
tornaria definitivamente um louco,
conheceria
as paisagens que não posso descrever,
criaria a
Verdade para que esta renascesse em glória ideal:
posso rasgar
o céu em sonho,
mas se o
fizesse estaria para sempre iludido.
A razão
existe para refrear todas as potências!
A sabedoria
esconde, o delírio revela
– este é o
mundo em que a sabedoria dorme,
e o Caos não
está aqui!
Quando a
Ilusão for quebrada estarei morto,
vou renascer
quando isto tudo precisar ser feito;
as visões,
todas elas!
E estaremos
a salvo: não restará nada!
O Inferno é
sempre o Tempo Presente.
(Thiago Nelsis)