Depois do espetáculo desfaleci
no pé do rio que separa os mundos.
A aurora rubra irradia o cenatório
que me acolhe; sinto ainda pesados
os meus membros já dormentes...
(Ah!) – essa vitalidade que inflama em mim,
pulsante,
mesmo neste espástico cansaço!
Fervente o corpo
como eu já não o sabia sentir... enfim!
Carruagens correndo sobre a ponte
cantam à chegada da visita!
Carruagens correm loucas na ilusão!
Carruagens... (sobre a ponte!)
Brilho dourado das nuvens de fúria
– que percorrem os montes –
nas colinas onde o brado ressoa...
Escolhi desfalecer à beira deste rio
para ouvir
as carruagens da loucura.
(...) Ilusão de vida e morte.
Eu separo dos rios o mundo:
e meu brado translúcido ressoa!
A ponte corre dourada
sobre as gramas da colina rubra
(vão-se as carruagens ante o crepúsculo)!...
Ah, sim!
Para mim veio a mais bela das loucuras:
está na ponte entre as carruagens rubras
que separam os mundos:
nas colinas do rio dourado – que brada
sobre a grama translúcida e ressoa o crepúsculo...
carruagens distantes...
loucura disforme...
(Crepúsculo dos mundos):
as carruagens me separam!
a grama corre o rio translúcido
nas colinas douradas
em que brada a grama sobre a ponte cansada...
Carruagens disformes
da loucura e do delírio...
O cenatório dormente inflama
no cansaço espasmos ferventes!
A vitalidade sentida nos membros acolhedores...
pesada aurora!
– Sinto espasmos que já não mais sabia.
Desfaleci no espetáculo do rio;
após as carruagens que percorrem as colinas
(cantando loucuras da grama e da ponte):
dois mundos
dormentes.
O peso translúcido do crepúsculo dourado,
da rubra aurora da loucura
(espasmos de vitalidade translúcida...)
e do espetáculo acolhedor.
Ah! meu Devaneio, meu Paraíso!
(Thiago Nelsis)