quarta-feira, 25 de junho de 2014

Paisagens



Dorme o barquinho sobre a onda
em que repousa o maremoto.

Clareia o céu por detrás da crista
(mas nada sabemos disso),
estamos todos a dormir ali: embriagados.

Avança entre as cidades,
subindo a montanha, o facho d’água que escorre
– e sobre si desliza inteiro:
(vê? ainda é dia!).

Dormiremos aqui para sempre,
anestesiados pelo maremoto:

nosso bercinho agora escoa através do Campo!:

Azul-claro esverdeado
vai voando, desce e canta
a ventania, desarranja o arco-íris.

No farfalhar gentil do vento em fúria:
(quebram-se madeiras)
construções inteiras ruem – quebra-se o mundo todo
e vai-se embora a onda...

nós nunca mais despertaremos
os licores agora vivem nas veias da humanidade,
inflamam trovoadas de sangue pelos corpos inertes
sobre o barco que cavalga a onda.

Não acabamos ainda de regressar dos sonhos!
e nossos pés não devem tocar o chão...
É ainda tudo que há (e é tudo o que somos).

Ecoa distante a voz gentil:
“Nós podemos ver dentro de você,
Sem que você possa olhar dentro de nós...”

(Thiago Nelsis)

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