terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Morte do Poeta

Feito um Atlas moribundo
– Mas sem o céu a lhe pesar nos ombros –
Cambaleia o poeta ante sua tarefa mecânica.

Como a embriaguez que antecede a náusea
Sua inspiração cede lugar à dor!

Espírito altivo entre voos extraordinários,
Majestade sobre as nuvens das canções que compôs em devaneio,
Tombou como ave doente.

Na densa névoa onírica onde todas as razões renascem
Ele se perdeu: cego e tonto.
Dissipou-se tudo, e os elixires mágicos que bebera
Deixaram-no de alma enferma.

Da memória apagaram-se as expedições mirabolantes:
O infinito, minguado, é agora o tempo implacável,
Em fúria, a lhe cobrar todos os atrasos.

O poeta é um ser maldito pelo ofício:
Repetidor perene da ascensão e da queda de Ícaro;
E de tanto celebrar festins no firmamento
Deverá quedar – consumido nas chamas
                                                   Da sua própria loucura.

Morre esse artista quase sempre como um Sísifo a rolar inutilmente sua pedra.
Definhando em sua própria eternidade,
Ele dorme (já sem mais sonhar)...
Aguarda-lhe o esquecimento que virá para destrilhar seu caminho,
Quando sua existência será finalmente igual às brisas – 
Que vão-se embora sem mostrar que ali estiveram.


(Thiago Nelsis)

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