O relógio
dobra-se na parede
entre portas
e janelas fechadas;
sob as
marteladas dos ponteiros
minha alma é
pregada (à certeza do fim).
Sem vida,
permanece em pé o corpo,
bombeia o
sangue um coração que não sente.
Não indiferente
às horas – à prisão da alma –
dobra-se o
cenário inteiro:
marteladas
profundas da mente e para fora dela!
Da vida e para
dentro de si; a continuidade opressora...
Ressoa por
todo lugar o império linear do abismo
(a marcha é
feroz!),
a existência,
ao gualdir as essências da vida,
abandona-me
em sonhos que nunca descansam.
Tenho insônia
na alma e os enjoos da vigília,
tenho permanecido
em pé, inane,
a encarar o
martelo do tempo, seus ponteiros dobrados,
o desejo
violento de irromper o mundo em seus golpes!
Trovoadas lá
fora, mas não chove!
Trovoadas dentro
do meu espírito ressecado!
Trovoadas batendo
nos sinos!
Rompe-se o relógio;
quebradas as horas, forçadas as janelas,
arrombadas as
portas...
A trovoada
dos martelos quebra os sinos do tempo:
dobra-se o
Universo sob seu comando,
três ponteiros
para escravizar a Morte;
três ponteiros
para quebrar os sinos!
(Thiago
Nelsis)