quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pavor Nocturnus



Polvoroso ar que infesta o meu redor...
Luzes piscam, ardem névoas de fogo.
Ouço gritar (*desesperado rogo!)
– Geleira infernal daqui! – “Sois pior”!

Minha agonia espreita esta miragem?
Pesadelo desperto, insondado...
Tento mover membros que não reagem!...
– (?) a cair no vazio espiralado (...) 

Na treva me abraça e ruge o silêncio...
E nada mais: senão o tempo estanque.
Mas que a Loucura logo se destranque!

O horror que neste mundo vivencio
Enfastia-me! Meu olhar nefasto
Reprova, mas não vê...  o Inferno é vasto.

(Thiago Nelsis)

Paisagens



Dorme o barquinho sobre a onda
em que repousa o maremoto.

Clareia o céu por detrás da crista
(mas nada sabemos disso),
estamos todos a dormir ali: embriagados.

Avança entre as cidades,
subindo a montanha, o facho d’água que escorre
– e sobre si desliza inteiro:
(vê? ainda é dia!).

Dormiremos aqui para sempre,
anestesiados pelo maremoto:

nosso bercinho agora escoa através do Campo!:

Azul-claro esverdeado
vai voando, desce e canta
a ventania, desarranja o arco-íris.

No farfalhar gentil do vento em fúria:
(quebram-se madeiras)
construções inteiras ruem – quebra-se o mundo todo
e vai-se embora a onda...

nós nunca mais despertaremos
os licores agora vivem nas veias da humanidade,
inflamam trovoadas de sangue pelos corpos inertes
sobre o barco que cavalga a onda.

Não acabamos ainda de regressar dos sonhos!
e nossos pés não devem tocar o chão...
É ainda tudo que há (e é tudo o que somos).

Ecoa distante a voz gentil:
“Nós podemos ver dentro de você,
Sem que você possa olhar dentro de nós...”

(Thiago Nelsis)

Noctâmbulo



Sufocante é a tirania das horas,
mas quando a noite se alastra ao redor,
instaurada a vasta cúpula que tudo engloba,
a paz volta a reinar.

Sob os astros que refulgem sempre distantes
(na Indiferença de tudo que é Magnificente)
recorro aos meus costumeiros sonhos despertos
– permite-se assim ao existir folgar:
eis quando os momentos (todos),
embora voltem sempre a seguir,
duram vidas, param durante séculos,
sem nunca transcorrer...

O cenário inteiro é outro nestes sonhos:
as sombras dançando todas as danças!...
– os raios de luz que lhes dão forma correm livres
nessa abundância quadridimensional.

Vibra vivaz tudo em cores,
(e mesmo as sombras aqui fulguram!)
essas cores vivas traçam movimentos que,
no seu luzir, tornam-se audíveis.
Ah! O embriagar-se desta mesma plenitude!
noite após noite; ...
o brilho nos olhos!

– brilharam tanto
que ao fim arderam secos...

(...)

Não mais a magia dos sonhos despertos,
nem o desdém pelo enfadonho me afligem mais!
O irreal e vida são-me agora nada;
a Arte, que sempre mente para os que sofrem,
não poderia me iludir para sempre.

Viu-se aqui tudo outra vez informe:
(e eu espero!...)
Espero renascer em mim o inaudito
através de uma nova e verdadeira Fonte –  
sei bem que os sentidos,
obscurecidos pela existência,
guardam memória da verdade oculta.

Decidi permanecer na vida
para não mais sonhar falsos sonhos.

(Thiago Nelsis)