segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os Três Martelos



O relógio dobra-se na parede
entre portas e janelas fechadas;
sob as marteladas dos ponteiros
minha alma é pregada (à certeza do fim).

Sem vida, permanece em pé o corpo,
bombeia o sangue um coração que não sente.
Não indiferente às horas – à prisão da alma –
dobra-se o cenário inteiro:
marteladas profundas da mente e para fora dela!
Da vida e para dentro de si; a continuidade opressora...

Ressoa por todo lugar o império linear do abismo
(a marcha é feroz!),
a existência, ao gualdir as essências da vida,
abandona-me em sonhos que nunca descansam.

Tenho insônia na alma e os enjoos da vigília,
tenho permanecido em pé, inane,
a encarar o martelo do tempo, seus ponteiros dobrados,
o desejo violento de irromper o mundo em seus golpes!

Trovoadas lá fora, mas não chove!
Trovoadas dentro do meu espírito ressecado!
Trovoadas batendo nos sinos!

Rompe-se o relógio; quebradas as horas, forçadas as janelas,
arrombadas as portas...

A trovoada dos martelos quebra os sinos do tempo:
dobra-se o Universo sob seu comando,
três ponteiros para escravizar a Morte;
três ponteiros para quebrar os sinos!

(Thiago Nelsis)

Sou-me (Remorsos)



Já o sentir se instala sem mais pesar,
Mármore frio de meu existir pétreo...
No calafrio de um mal estar funéreo,
Sou coisa-fixa firme nalgum lugar!

Monumentalmente estanque na vida
Passa-se tudo comigo e eu, só (!)
Fria escultura que tornará ao pó;
Já antes disso era a imagem desvalida...

Ideia que ‘sou-me’ – sou nada mais,
Sou isso (que é nada) até não mais ser:
Maquinário de carne, sangue, ossos!...

A engrenagem cessou: já não sou mais.
(Eu) não era nada, não tornarei a ser...
Destroçada a imagem – deixou os remorsos.

(Thiago Nelsis)