terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Amanhecer no Firmamento



Levantava-se o firmamento anunciando a manhã,
outra vez o império púrpura ressoa
irradiando luzes que brindam o Renascimento.
Do mundo refeito na vastidão, outrora vácua,
refulgem as novas criaturas
(estas que agora preenchem os cenários
que se alastram, infinitos).

O amanhecer era ofuscante para nós,
perdemo-nos por caminhos não antes vistos e ao longe
os vislumbres saudavam os recém-chegados.

Explicou-se o mundo novo como não fizera o anterior,
Abriu com isso tantos mistérios que ao fim
o pensamento já não servia a nada.

As almas mais jovens espalhavam-se entre campos,
assombros desconhecidos também espreitavam.
Não era exatamente o mundo; o tempo por certo não estava lá.
Tínhamos, além da manhã, as tardes e tínhamos também as noites,
o ontem, o amanhã e o hoje acontecendo em um só:
já não era a continuidade irrevogável.

Embebedei-me! –  
e ao velho mundo fiz um brinde
(e esquecendo-me dele, foi que me esqueci de mim):

A plenitude não me fora negada afinal.

(Thiago Nelsis)

Animalesco




Sempre se repete a desgraça e cansa,
Pois já não dói mais... se nunca descansa!
Na vida constante há sempre o momento
Que assim se segue! Se não traz alento

Nem sempre agride-nos o triste acaso.
O fado – tal como jogo de azar –
Premia-nos com a crueza e o pesar,
Logo aceitamos viver em descaso...

Foi roubado o homem de sua natureza,
De todo o apetite fora privado.
E se houver de suportar com leveza

A dor de ver-se animal enjaulado,
Fará império na miséria do mundo...
Vida sem razão, o sabido absurdo.

(Thiago Nelsis)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Um Vislumbre...



Quebra-se a vida ao redor do espelho,
Nele reflete nossa essência inteira:
Rasga da existência toda fronteira
Até o horizonte que brilha vermelho!

Desnuda em tela vítrea cada era,
Passado e futuro em chumbo, fundidos;
O horror, que sempre nos acometera,
Envolve tudo com dedos compridos!

É e sempre será este o nosso flagelo...
Sempre este sangue a correr desenfreado,
Sempre será a vida sobreviver!

O vidro acusador, frio como gelo,
Jogando seu terror inusitado,
Reflete o banal... nos castiga a ver.

(Thiago Nelsis)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(Des)Humanidade



Pesado e sujo tom que infesta os ares:
Ao configurar o que a humanidade
Afruta (e inspira todos os males
Ao engendrar a nossa infelicidade!)...

Fizemos subir a fumaça e o fogo
Para erguer à altura os cinzentos muros!
E a loucura glorifica os mais duros
Medos que se perpetuam neste jogo...

Devorei sujeiras – vomitei sangue
(Com as toxinas que entorpecem todos) –,
Tenho os olhos secos e amortiçados...

Aos tropeços neste caminho exangue
Vamos morrer por nossos próprios modos,
Sob céus escuros... já quase apagados.

(Thiago Nelsis)